Para mim, “Tempos de Cléo” é uma obra cênica que acumula cores, cheiros, ruídos, tira poesia até de um banco manchado de sangue.

Depois de algum tempo, me pego dedicando um tempo para pensar e escrever sobre o meu descobrimento como dramaturga, e mais além, sobre a minha função dentro do “Tempos de Cléo”.

Sempre fui inquieta e essa condição me levou ao teatro. Pequena, com apenas dez anos, um dia eu falei: eu quero fazer teatro. Não sabia muito bem o que isso significava e ainda hoje, com apenas duas décadas de vida, me pergunto o que isso significa.

Comecei mirrada em curso de teatro de rua, na minha querida cidade praiana Caraguatatuba. No curso surgia uma admirável Cia. de teatro, uma turma apaixonada e resistente que compõe o cenário teatral da cidade até os dias atuais. Eu mirrada e eles tão grandes, eu brincando e eles vivendo de arte… E sobre a brisa do mar, nos teatros na praça eu comecei a levar a sério a brincadeira.

De lá caminhei pra outra rua, pulei pro palco e sem querer cheguei a Maringá.  Quando eu percebi eu estava aqui, matriculada na primeira turma de graduação em Licenciatura em Artes Cênicas da Universidade Estadual de Maringá.  O que isso significava?

Agora recém-formada penso o quanto esta experiência modificou o meu olhar sobre essa arte, abriu as portas das salas de aula e ampliou o meu fazer teatral, descobrindo outras possibilidades além do palco. Hoje estudo a arte da palhaçaria, compartilho aprendizados e ainda tímida, exponho escritas.

Sempre gostei de escrever, mas até pouco tempo era um segredo, até que a Marcia Costa felizmente descobriu. Trabalhamos como alunas bolsistas em um projeto de radioteatro oferecido pelo projeto Universidade Sem Fronteiras. E foram em meio a gravações, cafezinhos e alguns estudos que tive a oportunidade de conhecer essa grande e generosa artista.

Se hoje reconheço a dramaturgia como mais uma possibilidade de trabalho, se compartilho os meus textos, é muito por conta da Marcia. A “Radioteatro Pão Quentinho” foi uma rica experiência, me deliciei escrevendo os roteiros, somando ideias com o grupo e rindo muito com as gravações.  E foi nesse ambiente que a Marcia me contou da sua vontade de criar uma peça, ela já tinha algumas inquietações e me convidou para escrevê-la.  A ideia inicial era uma costura de obras dramatúrgicas que tivessem como fio condutor histórias de grandes mulheres.

Conversa vai, vem, dia passa, outro dia e chegamos a Cléo.

E pensando sobre aquela mulher eu me arrisquei a escrever algo, e foi então que eu escrevi sobre o tempo, o tempo da Cléo, os “Tempos de Cléo”, e tenho aprendido a esperar, pensar sobre o minuto…

Depois de acumular histórias, parar pra respirar, entender o tempo, ir pra rua, mudar o rumo…

Escrever, apagar, reescrever…

Pois não é uma tarefa fácil achar as palavras certas para falar de momentos tão indescritíveis. De pessoas que convivemos apenas por algumas horas, minutos ou apenas uma passagem… Falar do humano, de uma vida sem florear, mas sem perder a poesia.

O meu trabalho tem sido ensopar-se do movimento da rua, do tempo, das figuras, das palavras cuspidas, das não ditas, gritadas, sussurradas, estampadas em cada corpo, em cada praça… E ainda transbordada de sensações, interrogações, exclamações e reticências, escrever essa obra que não procura um ponto final.

Enfim, agora, depois de alguns meses de espera e ansiedade, de experiências, estudos e reflexões, voltamos a acordar, pois mais do que nunca, mais do que antes são tempos de Cléo…

Texto: Carolina Santana

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